sábado, 10 de julho de 2010

Mapeamento de ocorrencias da brigada militar

Gustavo Azevedo | gustavo.azevedo@zerohora.com.br

Projetado em 2009 e posto em prática no início do ano, o mapeamento online das ocorrências policiais se transformou em uma arma cirúrgica para combater o crime no Estado. Em apenas seis meses de funcionamento, o sistema aguçou a mira da Brigada Militar (BM) e já conseguiu mudar o cenário de algumas regiões conflagradas.

Com mais de 80 mil ocorrências cadastradas, o chamado georreferenciamento permitiu aos comandantes da BM alterar estratégias de policiamento praticamente em tempo real. Para o subcomandante-geral da BM, coronel Jones Calixtrato, o sistema é a principal causa da redução de crimes entre 10% e 20% neste ano na comparação com 2009.

— Agora se monitora os crimes e se emprega os recursos onde realmente precisa. Podemos visualizar o cenário em tempo real, montar operações, barreiras nos locais certos. É o fim do achômetro — explica.

O centro histórico da Capital foi uma das primeiras áreas repaginadas. Terreno fértil para ladrões até pouco tempo atrás, a região começa a ser apaziguada. Os índices de furtos e roubos vêm caindo mês a mês

As operações de policiamento passaram por uma reciclagem baseada no georreferenciamento. Todas as manhãs, o major André Luiz Cordova, comandante da unidade responsável pela maior parte do Centro, abre seu laptop e visualiza as ocorrências no mapa. Cada quadra, tipo de crime, horários mais frequentes e vítimas passaram a ser analisadas.

– Não é mais estanque. Ajusto e remodelo o policiamento conforme o contexto. Agimos com mais estratégia e informação – afirma.

Com mais segurança, lojas voltam ao centro da Capital

Os bons resultados também são consequência do aumento do efetivo, que teve um acréscimo de mil soldados em Porto Alegre. Esse novo panorama mudou a rotina dos policiais. Até o início do ano, uma fila de PMs se formava em frente ao operador que registrava os boletins em um computador a fim de dar baixa na avalancha de ocorrências diárias.

— Ninguém queria essa função, porque não parava um minuto. Agora tem gente disputando a vaga — brinca um dos policiais da região, ao destacar a queda na demanda de ocorrências.

Com base nos dados, os PMs passaram a atender a setores específicos, como bancos e farmácias, criando uma rede de informações capaz de afugentar os bandidos.

— Conseguimos mapear a ação dos criminosos, descobrir se são os mesmos ou se tem gente nova no pedaço. Repassamos para os lojistas que nos informam se eles reapareceram pela região — explica o major.

Com a área central mais segura, lojas que nos últimos anos tinham abandonado a região resolveram voltar. A melhor distribuição de PMs, viaturas, motos e até bicicletas permitiu que o horário de circulação no entorno do Centro Histórico se estendesse.

— As pessoas andam pelo Mercado e pela Praça XV às 22h sem problemas. Há muito pela frente, mas agora é um outro Centro — comemora o presidente do Sindicato dos Lojistas da Capital, Ronaldo Sielichow.

Entraves a avanços

Nos próximos meses, o sistema utilizado pela Brigada Militar passará por um upgrade. O próximo passo é mapear o efetivo – PMs, viaturas, motos – e movimentá-lo como se fosse um tabuleiro de xadrez virtual para combater crimes de cada região.

Na sala de cenário – o local instalado no quartel-general da BM onde se monitora todas as ocorrências –, está sendo desenvolvida essa nova etapa. Para o subcomandante-geral da corporação, coronel Jones Calixtrato, interligar o PM ao mapeamento das ocorrências reduzirá ainda mais os índices de criminalidade no Estado.

O georreferenciamento também deverá ser estendido para o Corpo de Bombeiros, num plano de defesa civil contra catástrofes, e nos comandos ambientais rodoviários.

— Até o fim do ano, todos os pontos com maior número de acidentes no Estado estarão mapeados. Dessa forma, poderemos deslocar efetivo ou melhorar a sinalização para evitar problemas nas estradas — explica Jones.

Todo esse avanço poderá emperrar em deficiências da corporação. O déficit de efetivo, apesar das novas contratações de 3 mil praças, ainda atrapalham. Além disso, a concentração de crimes em determinadas regiões tornam mais demorado o trabalho de processar as ocorrências.

— O abastecimento dos dados é feito pelos próprios PMs. Há município que só tem quatro ocorrências por dia. Em outros, o operador não consegue dar conta de tudo — lamenta um dos coordenadores do georreferenciamento, major Rubinei da Silva Júnior.

Além da carência de pessoal, a desatualização de equipamentos de informática e até a falta de rede de internet também podem travar a expansão.

Os cercos no Interior

Não é somente na Capital que a nova tecnologia produz resultados animadores. No Interior, o planejamento baseado no georreferenciamento dos crimes já pôs fim a fuga de assaltantes.

Em outubro de 2009, um assalto a uma agência bancária provocou pânico aos moradores de Anta Gorda. Após um tiroteio, os bandidos tentaram escapar da Brigada Militar por estradas vicinais e propriedades rurais. Não adiantou. Em três dias, a quadrilha foi completamente desarticulada e presa. Uma das principais armas para fechar o cerco foi o mapeamento inteligente.

Meses antes, o comando havia criado o que denominaram de Plano de Contraofensividade Articulado. O nome complicado nada mais é de que uma articulação com todas as forças policiais da região em conjunto com os moradores, que se transformam em informantes. A partir disso, a BM mapeou as ocorrências de todos os pontos de fuga, estradas, casas abandonadas, locais onde haviam suspeitos de crimes.

— A interiorizarão dos assaltos nos levou a fazer esse trabalho. No roubo em Anta Gorda, uma viatura de Muçum se posicionou conforme o planejado e conseguiu interceptar os criminosos — afirma o tenente-coronel Antônio Scussel.

Outras operações de cerco também tiveram o mapeamento como aliado. O assalto a um posto bancário em Gramado dos Loureiros, no mês passado, foi exemplo de agilidade. Sem efetivo suficiente para caçar os bandidos, a BM mobilizou, em poucas horas, cerca de 200 policiais na operação na cidade distante 400 quilômetros de Porto Alegre. Depois de nove dias de cerco, sete assaltantes foram presos e um morreu em confronto.

Plataformas em áreas críticas

O mapeamento digital levou até à substituição dos antigos pedestais de madeira, onde os PMs permaneciam em pé e que ficavam espalhados por ruas do centro da Capital. Em seu lugar, plataformas maiores – feitas de aço e protegidas.

Essas estruturas móveis foram distribuídas estrategicamente, conforme os pontos críticos apontados pelo georreferenciamento. Estão situadas no Largo Glênio Peres e na Rua dos Andradas, por exemplo, locais que concentravam a ação de criminosos, principalmente de ladrões de carteira e de lojas.


ZERO HORA


Nenhum comentário:

Postar um comentário

O autor desse Blog não se responsabiliza pelos comentários aqui postado. Sendo de inteira responsabilidade da pessoa que o fez as consequências do mesmo.